Assim como as gravuras rupestres, as pinturas corporais e os cânticos do toré, os mapas também contam histórias. É preciso estar atento/a para “ouvir” essas histórias que eles guardam como se fossem sussurros. Cada elemento num mapa é um signo que diz algo, nada está ali por acaso. Cores, linhas, manchas, ícones, letras e números compõem uma linguagem cifrada que tem o poder de mostrar e de esconder realidades.
Os mapas são em si mesmos discursos de poder. Eles pretendem evidenciar alguns pontos de vista enquanto escondem outros. Objetos de governo, de conhecimento e de estratégia militar. São ao mesmo tempo obras de arte e ferramentas técnicas. Enfeitam as salas dos palácios reais e das grandes empresas. Guiam viajantes, informam negociantes e administradores. Representam Estados e os territórios onde exercem seus poderes. Também são logomarcas de comunidades imaginadas poderosas e com frequência são signos de projetos coloniais de longo alcance. Indicam, inclusive, as terras ainda por ocupar e conquistar.
Sempre nos chamou a atenção a ausência, ou antes a exiguidade, dos registros cartográficos sobre povos indígenas no Brasil, em especial no Nordeste. Afora alguns poucos, especializados e raros mapas históricos e antropológicos, quase nada se acha de informação acessível ao grande público. Espelhando o discurso que minimiza e nega a presença indígena, os vazios cartográficos gritam, pedindo que sejam preenchidos. É preciso colocar os povos e as histórias indígenas nos mapas. Desde a invasão colonial os povos indígenas lutam para não serem “varridos do mapa”. Se organizam, fazem retomadas, viajam para Recife e Brasília, fazem rituais e manifestações. Lutam pelo direito de existir!
Nossa inspiração vem deles. Do seu esforço para redesenhar o mapa e a história do Brasil, dando uma voz ao vazio que grita nessas cartografias.
O Atlas do Pernambuco Indígena tem entre seus objetivos contribuir com os esforços de visibilização dos povos indígenas, de seus territórios e culturas, de suas demandas por justiça e reparação histórica. Reunimos e divulgamos aqui, para um público amplo e não especializado, as informações disponíveis sobre os povos indígenas em Pernambuco, suas histórias, terras, culturas e lutas. Nas últimas décadas as informações sobre os povos indígenas tornaram-se mais numerosas, porém ainda são conhecidas apenas de um público especializado acadêmico ou solidário à causa indígena. É preciso que mais gente tenha acesso a essas informações e isso inclui os próprios povos indígenas e suas comunidades escolares, além de toda a sociedade pernambucana e brasileira.
Trazemos aqui um conjunto de mapas que busca suprir essa lacuna. O Atlas está apoiado em anos de pesquisa bibliográfica e de campo acumulados pela nossa equipe, em diálogos e partilhas sistemáticos com povos indígenas e suas lideranças e também com pesquisadores/as das áreas da história e antropologia, que tem se dedicado a estudar os povos indígenas em Pernambuco em todos os tempos.
Que as histórias aqui contadas venham a se somar àquelas que os povos indígenas estão vivendo e contando nos dias de hoje. Na perspectiva de que o trabalho não cessa e este Atlas estará saudavelmente incompleto, porque as vidas indígenas seguem sempre produzindo novas realidades e apontando para o futuro.
Parabéns!Excelente ambiente. Servirá como uma grande fonte de pesquisa para nós pesquisadores e integrantes do Instituto Histórico Geográfico e Cultural de Limoeiro.
Esse projeto do Atlas é lindo demais, em todos os sentidos! Academicamente, mostra um esforço coletivo de leitura histórica e antropológica do território que, literalmente, recoloca os povos indígenas no mapa de Pernambuco e na cena da história. Todos tem muito a ganhar, especialmente público e os povos indígenas em sua permanente e incansável luta por terra e dignidade. Parabéns, ao querido amigo Estevão e a todos os colaboradores!
Parabéns pela iniciativa, fantástica a ideia do Atlas e a disponibilização de tantas fontes, artigos e mapas. Obrigado
O que eu não quero que na imensidão do tudo, o nada seja nossa herança!
Thini-á Fulni-ô.